sexta-feira, outubro 27, 2006

Grandes Portugueses



Num programa televisivo comprado à BBC é lançado o desafio à audiência de eleger o maior Português de todos os tempos. Penso que há várias formas de analisarmos o programa e o desafio. O programa marca o regresso da Maria Elisa, que após uma inegável ascensão dentro da televisão pública onde fez um bom trabalho chamando a atenção para determinados factos de relevo na política nacional resolveu ela também para o centro da questão. “Chamada” pelo dever nacional foi parar à Assembleia da República. Já na parte final dos seus programas televisivos alguns factos menos abonatórios à sua pessoa vieram a público. Nada que fosse muito grave mas revelavam mais uma vez que falamos do Povo e para o Povo, levantamos os problemas mas temos telhados de vidro. E como em qualquer parte do mundo politizado quem investiga sabe que pode e deve ser também ele(a) investigado(a). Não sei bem nem como nem porquê mas após um falhanço na Assembleia, mais ou menos apoiado pelos seus colegas parlamentares Maria vai para Londres num alto cargo público. Sinceramente embora lhe reconheça competência jornalística não entendi essa nomeação, haveria muitos outros Portugueses com curriculum adequado, mas esta situação faz-me lembrar a nomeação da Catarina Furtado, ambas são duas mulheres lindas e charmosas mas que eu saiba estamos a confundir o acessório com o essencial, que é a representação além fronteiras de Portugal.

Bem esta introdução serviu apenas para chamar a Vossa atenção de como nos tentam “seduzir”, sinceramente gosto mais do Prós e Contras da Fátima Ramos. A realidade foi esta, Freitas do Amaral demitiu a Maria Elisa e esta teve de reflectir na maneira de regressar em GRANDE a Portugal, quando muito de forma a manter o mesmo nível de vida.

È claro que só vê e participa quem quiser, e acho que o que há de positivo no programa é a discussão que este gera. Leva à reflexão do estado actual do País, do seu passado e tenta identificar quem contribuiu de uma forma mais ou menos directa para o estado em que estamos. Nos últimos 30 anos não há dúvidas, uma alternância entre os dois partidos políticos mais votados quer queiram quer não têm de assumir o estado a que chegámos. A História de uma forma irrefutável fará valer e ajuizará todos os grandes temas da política nacional. Sócrates por exemplo já demonstrou que a palavra "determinado" é importante para o seu marketing no entanto todos o estão a ver como alienado. Ao ponto de andar a mexer de forma “cega” nos vários sectores do estado, tudo está em causa, nem que sejam migalhas ou aspirinas como lhe chamaram. Até os deficientes se forem “ricos” (com um salário maior ou igual a 1500 €) levam por tabela. Aqui ou há Imoralidade ou comem todos. Ora eu gostaria de ver qualquer político com assento parlamentar obrigado a demonstrar ao País, tipo Big Brother, como geria a sua vida num mês com o rendimento que é imposto ao mais pobre dos Portugueses (200€ como alguns reformados recebem), a bem da Democracia Representativa. Estou certo que seria um programa televisivo com sucesso e cheio de audiência, ninguém dúvida. Mas tal como o ministro das finanças anunciou o salário dos administradores públicos não é definido, por forma a tentar captar os melhores gestores.

Mas afinal quem foram os Grandes Portugueses ?

Primeiro temos de analisar a História e ver qual ou quais os Portugueses que influenciaram de forma determinante a História de Portugal. Sinceramente podíamos passar longas horas a ouvir falar de Grandes Portugueses como o Professor Hermano Saraiva nos habituou. São autênticas viagens no tempo.
Mas voltando à nossa questão, a época e os Portugueses que influenciaram o curso da História em Portugal e no mundo foram sem sombra de dúvidas as gerações dos Descobrimentos. Um conjunto de homens, matemáticos, astrónomos, historiadores, que conseguiram traçar, descobrir e apresentar novos mundos ao mundo. Todo o estudo ao nível da cartografia, do estudo das rotas e dos astros, e sobretudo de saberem manter e transmitir o segredo das novas rotas que davam acesso a novas terras. Nessa altura o desafio com Espanha era vincado e o mundo chegou a ser dividido em dois.

Os Descobrimentos Portugueses foram uma proeza tal que hoje seria comparável a termos um conjunto de astronautas a irem a Marte, montarem uma estação nesse planeta e regressarem posteriormente trazendo novas experiências. Não vejo nem de perto nem de longe quando isso alguma vez possa acontecer, provavelmente um dia num futuro longínquo.

Aqui fica em jeito de reflexão:

Uma conferência:

Um livro :

4º Volume
A Gramática do Tempo: Para uma Nova Cultura Política Este volume trata da reconstrução da tensão entre regulação social e
emancipação social como condição para voltar a pensar e querer a transformação social emancipatória. Com base no que é designado por
«epistemologia do Sul», propõe-se um pensamento alternativo de alternativas.Ante o colapso do contrato social da modernidade ocidental capitalista e colonial e a proliferação de fascismos sociais, é necessário reinventar a democracia, a cultura política e o próprio Estado. Em alternativa à democracia de baixa intensidade que hoje domina são propostas formas de democracia de alta intensidade através das quais é possível expandir os espaços públicos, tanto estatais como não estatais. As análises neste volume centram-se em articulações entre os espaço-tempo local, nacional e global.

O autor:

Boaventura de Sousa Santos nasceu em Coimbra, a 15 de Novembro de 1940.
Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973).
Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Universidade de Wisconsin-Madison.

A Colecção
Para um Novo Senso Comum: A Ciência, o Direito e a Política na Transição Paradigmática O autor considera que as sociedades e as culturas contemporâneas são intervalares: situam-se no trânsito entre o paradigma da modernidade, cuja falência é cada vez mais visível, e um paradigma emergente ainda difícil de identificar. Esta transição tem duas dimensões principais: uma epistemológica e outra societal. A transição epistemológica ocorre entre o paradigma da ciência moderna (conhecimento-regulação) e o paradigma emergente do conhecimento prudente para uma vida decente (conhecimento-emancipação).
A transição societal, menos visível, ocorre entre o paradigma dominante - sociedade patriarcal; produção capitalista, consumismo individualista e mercadorizado; identidades-fortaleza; democracia autoritária; desenvolvimento global, desigual e excludente - e um novo paradigma, ou conjunto de paradigmas, de que apenas podemos vislumbrar sinais. A argumentação centra-se em três grandes campos analíticos: a ciência, o direito e o poder. O objectivo desta colecção é desenvolver epistemologias e teorias sociais que ponham travão à proliferação da razão cínica, que alimentem o inconformismo contra a injustiça e a opressão e, por fim, que permitam reinventar os caminhos da emancipação social. Para subverter a hegemonia de que ainda usufruem a ciência e o direito modernos, recorre-se frequentemente a uma tradição marginalizada da modernidade, o pensamento utópico.

Uma peça de design, candeeiro de mesa : CAND-LED

LAUDINI e ROMANELLI

Uma obra de arquitectura:

Bruno Erpicum


Diferentes mensagens num mundo onde não temos que ser os melhores mas sim mais conscientes da realidade, da crise de valores que de uma forma transversal atravessa não só a nossa sociedade mas todo o mundo. Se a menina chinesa que trabalha 12 a 14 horas por dia tivesse os mesmos direitos que os de uma sociedade Ocidental, se o salário de um operário Chinês, Africano, Sul-Americano fosse igual em todo o mundo as assimetrias sociais ficavam mais ténues e o mundo ficava melhor.

Cada vez mais somos todos iguais mas tão diferentes à custa dos iguais.


sexta-feira, outubro 20, 2006

Reflexões sobre a vida ou a morte

Esta semana esteve em discussão, na assembleia da república o referendo sobre a despenalização do aborto. A primeira crítica que faço é que num parlamento constituído maioritariamente por homens sejam estes a decidir sobre esta matéria. A decisão de conceber cabe sempre à mulher tal como a decisão de abortar. Sinceramente o peso do voto da mulher devia nestas matérias ser muito acima do homem, até no referendo. Aquilo que está em causa é a despenalização.

Comecemos pela concepção, de que forma pode hoje existir uma gravidez não desejada ? Bem vamos admitir que ainda existem pontos em Portugal onde a pílula do dia seguinte não chega. Face às estatísticas é na população jovem que tem maior comercialização. Podemos mesmo assim ter uma ínfima percentagem que engravida sem querer. Ao que parece nos hospitais dos grandes centros chegam todos os dias pessoas cuja identificação é difícil de validar (B.I. trocados ou de familiares) com abortos mal feitos pondo em causa a sua própria vida.


Além disso situações há em que o feto tem problemas graves de sobrevivência ou tem problemas que irão condicioná-lo a uma vida com necessidades especiais cuja integração, apoio social e económico é sempre difícil e penoso. Mas voltemos a analisar as duas posições que a sociedade Portuguesa tomou. O mais interessante é analisar a evolução da opinião e o seu suporte.

As pessoas a favor da despenalização tentam definir tempos para essa despenalização … sinceramente acho que é estar a dizer quando é que há vida ou morte. A vida começa a partir do momento em que é concebida se dúvidas houver basta ver este link (atenção são imagens que chocam), desculpem mas não tive coragem de colocar as imagens aqui.

As posições contra dizem que defendem a vida por princípio. A Igreja toma hoje uma posição deveras interessante, dizendo que deve existir mais planeamento. Acho que estamos a falar de planeamento familiar e como tal dos métodos anticoncepcionais que a Igreja rejeitou, e como tal teve responsabilidades sobre a forma de evitar a propagação nas populações de África dos vírus HIV e da Hepatite C. A dimensão do problema é tal que mais de metade da população é seropositiva nalguns países. Mas não é só em África a imagem seguinte retrata uma mãe pedinte na rua no Laos.



Aquilo que é importante TODOS percebermos é que se não existisse uma evolução científica dos métodos anticoncepcionais, e se todos concordássemos sempre com as posições mais conservadoras, nunca chegaríamos ao ponto a que chegámos, nem a Igreja aceitaria o planeamento familiar. Isto relega-nos para outro ponto que é a clonagem de órgãos a partir de células estaminais, um dos grandes passos do início do século XXI e onde existem muitas opiniões contra, sobretudo das áreas mais conservadoras da sociedade, incluindo a Igreja.

Antes de terminar chamo a Vossa atenção para o que havia dito sobre a desresponsabilização do estado de bens comuns como a água e a energia. Esta semana no Rivoli do Porto tivemos o culminar de mais um desses exemplos onde propriedade do estado gerida e mantida à custa dos Nossos impostos bem como de fundos comunitários vai agora passar para a mão de privados. Rui Rio deu um tiro na perna. A cultura de e para o povo não pode ter fins lucrativos. A forma encontrada para exprimir essa revolta seria criticada por muitos anónimos dizendo que há um lugar para a contestação, incluindo os desacreditados tribunais portugueses cuja inJustiça é tão evidente quanto a espera dos pré-históricos processos a aguardar julgamento e cujos prazos muitas das vezes expiram, dando “razão” ao infractor. O mais triste é pouca gente “se toca” com este tipo de situação. Mas vem aí o Natal e ao passar do Ano teremos novos preços, novos impostos e menos poder de compra … nada importa porque a revolução está longe e mesmo quando existir será de cravos ou rosas.


sexta-feira, outubro 13, 2006

Liberdade de Expressão



Foi após o 25 de Abril de 1974 que passámos a poder criticar de uma forma livre sobretudo o poder, as instituições, as ideias fosse de quem fosse. A imprensa que à data tinha meia dúzia de jornais e algumas revistas conheceu uma explosão fantástica. Basta olhar para qualquer quiosque de rua e vemos as revistas como papel de decoração interior e exterior. Alguns grupos económicos anteciparam este boom dos média não só pelo interesse económico mas porque sabiam que constituiriam um 4º poder cuja “força” se exerce de um modo directo ou indirecto, mas que hoje qualquer instituição tem medo, A palavra exacta é medo, porque as reacções aos media seja pelo governo, pelos tribunais e altos magistrados (veja-se o caso do envelope 9, o caso da Casa Pia, a Universidade Moderna, e não se esqueçam do caso das facturas falsas) são reacções no mínimo “cautelosas”. A cobertura televisiva, a forma como as notícias são colocadas, umas verdadeiras, outras manipuladas, o facto é que hoje ninguém discute o poder da imprensa.

Podemos dizer que todos os dias somos poluídos com tanta informação. O Spam informativo existe e cria no cidadão um grau de abstracção incremental sobre os factos mais graves. Falamos na morte, na doença, na pobreza física e espiritual à distância que o nosso televisor está do mundo.

Contudo a pergunta que surge naturalmente é quem controla ou fiscaliza os media ? Seja em Portugal, na Europa ou na Austrália quem fiscaliza quem produz a informação ? O conceito criado nas novas sociedades neoliberais adquire a imagem de Regulador, e neste caso seria a Alta Autoridade para a Comunicação Social. Deixo aqui para Vocês dizerem quantas intervenções vocês se lembram.

Nós que escrevemos nos Blogs estamos a crescer de uma forma exponencial, locais há que antecipam notícias, mesmo antes de elas saírem nos media. Aos poucos está a nascer uma nova forma de expressão individual, uma nova liberdade de expressão. A credibilidade vai aumentando à medida que os factos confirmam as informações veiculadas no mundo Blog. Também existem casos de falsos testemunhos que começam agora a ser julgados por difamação.

Aqui fica uma visão do mundo blog em tempo real

http://brainoff.com/geoblog/

Vejamos agora a seguinte realidade, os bens essenciais a todos nós, como seja a água, as fontes de energia ( electricidade, gás, etc) estão a ser privatizadas, esta semana calhou à Galp, daqui a uns tempos será a REN - Rede Eléctrica Nacional, e assim vão os anéis e os dedos. No caso do mundo da Informação existe um facto não menos interessante. Chegámos ao ponto em que as empresas vendem tempo (os operadores de telemóveis), e as pessoas gastam parte das suas economias para poder falar, para terem uma liberdade condicionada de expressão. Entretanto com a Internet apareceu o VOIP –voz sobre IP, e já se consegue contornar um pouco a situação, mas a pergunta surge de novo quem controla a Internet ? Ninguém, à primeira vista, só que vejamos a questão por um outro prisma. Refazendo a questão, por onde passa a maior parte da informação na Internet, a quem pertencem os servidores de alto débito, aqueles que caso falhem podem por Países ou Continentes sem Internet.

- A quem pertencem? A companhias americanas, algumas sedeadas na Europa. Então quer dizer que grande parte da informação passa por lá e eles podem … ?

- Claro se quiserem.

- Então estamos a ficar como que dependentes. Como vês não é só aí, mas também.

- Aqui fica um link para Vocês poderem confirmar, http://www.caida.org/analysis/topology/as_core_network/


Contudo não nos esqueçamos que a Liberdade de Expressão mata, sobretudo nas sociedades mais repressoras, em África, no Médio Oriente, na Ásia e também na Europa.


Anna Politkovskaya

Antes de terminar gostaria de chamar a Vossa atenção para o comentário anónimo

do post anterior. Quando lerem, ouvirem algo do género, já sabem estão a querer controlar a Vossa liberdade de expressão.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Dramas Sociais

Pensativa e arrasada não sabia que fazer, era o fim da tarde e só de pensar que ia fechar-se em casa criava-lhe uma claustrofobia atroz. Saiu do emprego como que atirando um pesadelo para trás das costas, sabia apenas que quanto mais caminhasse, mais longe estaria daquela tarde marcante. Mudar de emprego era um pensamento que de uma forma cíclica ia ganhando forma. Contudo as obrigações familiares e as oportunidades escasseavam. Precisava de um local calmo e ameno para reflectir. Foi até à casa de chá Laranja, sabia que ali estaria sossegada e poderia desfolhar uma revista para se distrair. O som calmo envolto num chá gelado arrefecia-lhe a mente fervilhante. Sentia-se transparente, os sons, as pessoas, a revista que percorria tudo era passageiro, o pensamento era recorrente. Joana membro da Comissão de Protecção de Crianças sabia que deveria estar preparada para todo o tipo de situações, mas mesmo assim sentia-se arrasada. Algo de errado está na natureza quando uma mãe entrega um filho para adopção, o miúdo gritava agarrado às saias da mãe para ir para casa.

A mãe numa atitude fria e ofensiva dizia a Joana para levar o miúdo. Joana tentava controlar-se e chamou as assistentes para o distraírem. A mãe como se de um objecto peganhento se tratasse desgarrou o miúdo que em desespero esperneava e gritava no limite das suas forças. A mãe envolvida em papéis e assinaturas explicava a Joana uma realidade que ela bem conhecia.

Olhou o fundo da chávena como se fosse o fundo da consciência e diluiu o pensamento sem mexer na colher ...