Dramas Sociais
Pensativa e arrasada não sabia que fazer, era o fim da tarde e só de pensar que ia fechar-se em casa criava-lhe uma claustrofobia atroz. Saiu do emprego como que atirando um pesadelo para trás das costas, sabia apenas que quanto mais caminhasse, mais longe estaria daquela tarde marcante. Mudar de emprego era um pensamento que de uma forma cíclica ia ganhando forma. Contudo as obrigações familiares e as oportunidades escasseavam. Precisava de um local calmo e ameno para reflectir. Foi até à casa de chá Laranja, sabia que ali estaria sossegada e poderia desfolhar uma revista para se distrair. O som calmo envolto num chá gelado arrefecia-lhe a mente fervilhante. Sentia-se transparente, os sons, as pessoas, a revista que percorria tudo era passageiro, o pensamento era recorrente. Joana membro da Comissão de Protecção de Crianças sabia que deveria estar preparada para todo o tipo de situações, mas mesmo assim sentia-se arrasada. Algo de errado está na natureza quando uma mãe entrega um filho para adopção, o miúdo gritava agarrado às saias da mãe para ir para casa.
A mãe numa atitude fria e ofensiva dizia a Joana para levar o miúdo. Joana tentava controlar-se e chamou as assistentes para o distraírem. A mãe como se de um objecto peganhento se tratasse desgarrou o miúdo que em desespero esperneava e gritava no limite das suas forças. A mãe envolvida em papéis e assinaturas explicava a Joana uma realidade que ela bem conhecia.
Olhou o fundo da chávena como se fosse o fundo da consciência e diluiu o pensamento sem mexer na colher ...
12 Comments:
pois é, coitada da Técnica de Reinsersão Social!... Imagine-se agora o papel da Procuradora ... e, imagine-se, quem sabe, sobretudo o papel da mãe...
Estes assuntos têm fóruns próprios de discussão, não em blogs de gente anónima, aparentemente de pura divesão e /ou lamúria!
Cruzes! Como é possível?
Ainda ontem li num livro (ficção é certo, mas ea vem de algum lado) um episódio semelhante, embora mais soft. Um casal chique, bem na vida, ia jantar a restaurante chique e deixava a filha de 4 anos a dormir no carro, de pijama e tudo, quer estacionassem na rua, quer em garagens. A menina estava tão habituada que disse ao arrumador que, se ele estacionasse na rua, ela tinha de dormir no chão para não a verem...
Como é que alguém assim consegue pôr a cabeça no travesseiro e dormir sem qualquer peso na consciência é o que eu pergunto!!!
gostei de ler..real, cru, seco, como a vida de tantos
jocas maradas
estes assuntos arrepiam-me de uma forma atroz
(mudei de email, depois envio)
Boa noite
A vida é muito injusta, e as crianças são sempre quem mais sofre.
Um belo texto que retrata uma dura realidade.
Boa semana.
Julgo quenão há grande coisa a acrescentar.
beijos
Hoje tudo me doi.
Amanhã quem sabe voltarei a acreditar num novo mundo.
beijo
Van
De facto algo esta de errado com a natureza quando uma mãe entrega um filho para adopção. As razões, as explicações todos as conhecemos. mas COMO? COMO é possivel conseguir abandonar um filho? Como se faz para lhe voltar as costas e ir embora? Dificil de compeender. Mas mais dificil é imaginar o que sente essa criança, ver todo o seu mundo ser destruido, sentir rejeição e abandono e tudo o resto ser vazio.
sei que nem se longe alcancarei o que uma destas crianças pode sentir mas sinto que lhe devo eu e todos nós como sociedade a ajuda e compeensão na vida para que um dia consiga superar esse abandono de que foi vitima.
Obrigada pelo teu alerta lembrando que existem no mundo situações por entender, que existe a necessidade de estudar as formas de as evitar, que existe o dever de ajudar de toda uma sociedade que tambem é responsavel...
Não basta condenar... é preciso entender porquê, e trabalhar a prevenção e formas de solução.
Um abraço,
Isabel
Acho que é importante não descurar a história num todo. Se eu, enquanto mãe, algum dia me passasse pela cabeça abandonar um filho meu, ainda que para adopção, certamente teria que ter essa postura fria e distante ou não conseguiria faze-lo de todo. Acho que é fundamental avaliar também o sofrimento escondido nessa aparente dureza de mãe.
E, se queres saber, não me choca que se dê uma criança para adopção. Acho que é um acto de muito amor e de muita coragem. Seria mais fácil abandoná-la, talvez matá-lo... Tê-lo, senti-lo a crescer por dentro e depois decidir dar-lhe oportunidade de ter uma vida melhor... Se isso não é amor, o que lhe chamas?
(estou a dever-te um email, eu sei... mil desculpas... : )
Cruel...Duro...Real...
Outros caminhos poderiam ser tomados ou ter sido tomados para que esta situação não acontecesse...
Uma realidade, que julgo que seja mais comum, do que imagino...
Uma situação cruel, para toda a gente que a rodeia, principalmente para a criança, sentir-se abandonada assim de um momento para o outro... mas, acredito que para a mãe também não seja fácil (não estou a desculpar a atitude da mãe, nem por sombras, mas nunca se sabe as verdadeiras razões dela - até poderia ser para afastar o filho da miséria que concerteza viviam, para ele ter uma vida melhor de afectos, de amor, de conforto...)
A incapacidade de Joana perante esta e outras situações, com que se depara diariamente, não deve ser nada fácil, sentir-se impotente... penso que nem o chá a acalma e aquece, nessas noites em que "vira as costas" á realidade que a rodeia diariamente... noites frias, concerteza!
Gosto da forma como abordas assuntos realmente interessantes e importantes, neste teu espaço(acho que já tinha dito isto, se não disse tinha pensado, de qualquer forma, fica reforçada a minha opinião acerca do teu blog). Continua...
Beijo na tua alma
Deixo-te um beijo de bom fim de semana!!
PS_ é sempre uma prazer saber que uma das minhas musicas de eleição (daquelas que vão comigo sempre para todo o lado) toca aqui :)
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