sexta-feira, outubro 20, 2006

Reflexões sobre a vida ou a morte

Esta semana esteve em discussão, na assembleia da república o referendo sobre a despenalização do aborto. A primeira crítica que faço é que num parlamento constituído maioritariamente por homens sejam estes a decidir sobre esta matéria. A decisão de conceber cabe sempre à mulher tal como a decisão de abortar. Sinceramente o peso do voto da mulher devia nestas matérias ser muito acima do homem, até no referendo. Aquilo que está em causa é a despenalização.

Comecemos pela concepção, de que forma pode hoje existir uma gravidez não desejada ? Bem vamos admitir que ainda existem pontos em Portugal onde a pílula do dia seguinte não chega. Face às estatísticas é na população jovem que tem maior comercialização. Podemos mesmo assim ter uma ínfima percentagem que engravida sem querer. Ao que parece nos hospitais dos grandes centros chegam todos os dias pessoas cuja identificação é difícil de validar (B.I. trocados ou de familiares) com abortos mal feitos pondo em causa a sua própria vida.


Além disso situações há em que o feto tem problemas graves de sobrevivência ou tem problemas que irão condicioná-lo a uma vida com necessidades especiais cuja integração, apoio social e económico é sempre difícil e penoso. Mas voltemos a analisar as duas posições que a sociedade Portuguesa tomou. O mais interessante é analisar a evolução da opinião e o seu suporte.

As pessoas a favor da despenalização tentam definir tempos para essa despenalização … sinceramente acho que é estar a dizer quando é que há vida ou morte. A vida começa a partir do momento em que é concebida se dúvidas houver basta ver este link (atenção são imagens que chocam), desculpem mas não tive coragem de colocar as imagens aqui.

As posições contra dizem que defendem a vida por princípio. A Igreja toma hoje uma posição deveras interessante, dizendo que deve existir mais planeamento. Acho que estamos a falar de planeamento familiar e como tal dos métodos anticoncepcionais que a Igreja rejeitou, e como tal teve responsabilidades sobre a forma de evitar a propagação nas populações de África dos vírus HIV e da Hepatite C. A dimensão do problema é tal que mais de metade da população é seropositiva nalguns países. Mas não é só em África a imagem seguinte retrata uma mãe pedinte na rua no Laos.



Aquilo que é importante TODOS percebermos é que se não existisse uma evolução científica dos métodos anticoncepcionais, e se todos concordássemos sempre com as posições mais conservadoras, nunca chegaríamos ao ponto a que chegámos, nem a Igreja aceitaria o planeamento familiar. Isto relega-nos para outro ponto que é a clonagem de órgãos a partir de células estaminais, um dos grandes passos do início do século XXI e onde existem muitas opiniões contra, sobretudo das áreas mais conservadoras da sociedade, incluindo a Igreja.

Antes de terminar chamo a Vossa atenção para o que havia dito sobre a desresponsabilização do estado de bens comuns como a água e a energia. Esta semana no Rivoli do Porto tivemos o culminar de mais um desses exemplos onde propriedade do estado gerida e mantida à custa dos Nossos impostos bem como de fundos comunitários vai agora passar para a mão de privados. Rui Rio deu um tiro na perna. A cultura de e para o povo não pode ter fins lucrativos. A forma encontrada para exprimir essa revolta seria criticada por muitos anónimos dizendo que há um lugar para a contestação, incluindo os desacreditados tribunais portugueses cuja inJustiça é tão evidente quanto a espera dos pré-históricos processos a aguardar julgamento e cujos prazos muitas das vezes expiram, dando “razão” ao infractor. O mais triste é pouca gente “se toca” com este tipo de situação. Mas vem aí o Natal e ao passar do Ano teremos novos preços, novos impostos e menos poder de compra … nada importa porque a revolução está longe e mesmo quando existir será de cravos ou rosas.


16 Comments:

Blogger Teresa Durães said...

Em relação à IVG (interrupção voluntária da gravidez) acima de tudo é uma questão de assumir ou não o que se pratica clandestinamente. Existe. facto. Não vai parar de existir. Facto. aqui, em espanha, em Iglaterra. Facto. Depende do dinheiro que se tiver. Com ou mais menos mortes, com ou mais menos danificações de úteros, com ou mais danificações psicológicas. Quantas IVG são realizadas anualmente? Quantas pessoas vão parar às maternidades a esvairem-se em sangue e acabam por morrer?

Este é o referendo,não é mais nenhum. A IVG pratica-se. Legalmente ou não. Com mais ou menos mortes. Com mais ou menos médicos/ enfermeiras a o fazerem clandestinamente.

O resto é hipocrisia.

2:28 da manhã  
Blogger Mina said...

Eu concordo com a despenalização, acho que é um assunto demasiado intimo para ser discutido por quem não passa pelas situações.
Também acho que as mulheres têm um papel primordial nestas questões e deveriam ser ouvidas.
Mas também é verdade que a nossa sociedade não está preparada... é só mais uma situação.
Vamos a ver no que dá o referendo!
Boa semana.

11:25 da manhã  
Blogger naoseiquenome usar said...

Pois eu acho que não precisávamos de referendo nenhum para legislar sobre uma matéria para a qual o parlamento tem competência. Isto é só "sacudir a água do capote" ainda por cima afirmando a vinculação a um eventual resultado de um não obtido através do voto de menos de 50% dos Portugueses.
De resto a IVG já se encontra prevista e as situações a contemplar estão quase todas lá na legislação já existente. Contudo, refere-se a clandestinidade e o "turismo" para terras de Espanha.
Com ou sei lei vão ser sempre praticados abortos.
Sem lei, com as consequências conhecidas.

Quem é contra o aborto, não o passará a praticar por existir Lei.

Já quanto ao papel único da mulher na decisão, eu discordo. O flho é sempre de um pai e de uma mãe. Imaginemos que a mãe não se sente em condições de ter o filho, mas o pai sim. E o pai quer ficar com o filho, educá-lo... ou seja, desempenhar o papel que, infelizmente, estamos habituados a que seja apenas a m~e a fazer...

Beijo.

1:46 da tarde  
Blogger Teresa Durães said...

se eu não quisesse o filho não ia ficar nove meses grávida... tenham lá santa paciência... esta é a verdade...

3:43 da tarde  
Blogger Unknown said...

Tenho esperança que desta vez não vença a hipocrisia e que a nova lei vá para a frente...

7:18 da tarde  
Blogger Sea said...

Comentário mais honesto que te posso fazer: estou cansada deste assunto e cansada de tanto cinismo, em relação ao mesmo.
Beijo

7:49 da tarde  
Blogger Carla Jesus said...

A IVG existe, embora clandestinamente... sou contra a hipocrisia e a favor da despenalização...

Como sempre, temas fortes e actuais, um pouco difíceis de comentar, por vezes...

12:21 da tarde  
Blogger Teresa Durães said...

(um comentário extra-post:

tudo e nada é exactmente o mesmo!)

2:28 da tarde  
Blogger maria inês said...

venho visitar-te atrvès da Teresa (desculpa qualquer coisinha)

em relação a este assunto já nem me apetece comemtar!

Até parece o anúncio "Falam...falam...mas não fazem nada!"

vou voltar!:)))

9:07 da tarde  
Blogger maria inês said...

(desculpa os erros mas... não tem desculpa essa é que é essa!!)

9:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Triste mesmo é que agora e só agora é que a despenalização vai para a frente.

Agora e só agora que o governo anda a ver os rios de impostos que anda a perder para espanha/ao ano.

Esta sim é a realidade.

Até lá, uma rosa por cada mulher que já morreu por ter feito um aborto clandestino.

4:11 da tarde  
Blogger Su said...

estou com a teresa durães em seus comentários...

basta de hipocrisia

jocas maradas

8:59 da tarde  
Blogger yora said...

Mulheres, que por não terem condições para criar uma criança, decidem abortar e são presas. Pessoas que violam crianças estão em liberdade. Digam-me: qual das situações é o maior atentado a vida?
Quem aborta não toma tal decisão de ânimo leve. Quem aborta sofre consequências e não são unicamente a nível físico. Não é necessário agravar mais essa pena pois não?

Abraço

12:10 da manhã  
Blogger Cecilia M said...

concordo plenamente com a Teresa Durães. E também acho que já se perdeu demasiado tempo e que durante esse tempo muitas mulheres
morreram ou então ficaram com sequelas físicas e morais para toda a vida.

5:19 da tarde  
Blogger Isabel Magalhães said...

Sofia.S said...


" (...) uma rosa por cada mulher que já morreu por ter feito um aborto clandestino.



junto a minha rosa, também!


Deixo um abraço.

7:28 da tarde  
Blogger Isabel Magalhães said...

Deixo tb a minha reflexão. (já deixada noutro blogue.

Um abraço.
I.


É a primeira vez que vou abrir a alma na blogosfera sobre algo que considero muito... muito complexo.

1 - Sou a favor da VIDA. Na VIDA não há nada mais sagrado do que VIDA.

2 - Um dia, dez semanas, um ano, cinco anos? Qual é a diferença?

3 - Imaginar que pelo facto de se abolir o artigo que condena à prisão.... (vou inibir-me de citar porque todos já o leram muitas vezes) o número de abortos vai crescer exponencialmente é pura utopia...

4 - assim como é pura utopia imaginar que a existência do tal artigo impede que se pratiquem abortos.

5 - A história do aborto é tão velha como o mundo... como muitas outras histórias que todos conhecemos.

6 - O que está em causa (será?) é proporcionar às que o praticam melhores condições de aceptia reservadas apenas às/aos que as podem pagar.

7 - Fora isso... é tudo uma questão de 'consciência' ou falta dela.


# posted by Isabel Magalhães : 1/11/06 15:50

7:56 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home