sexta-feira, maio 27, 2005

Transparente


Havia dias em que sentia uma realidade muda,
Parada a olhar o quotidiano, entrava e saía,
Como se trespassasse o mundo que vai passando
No café olhava observando as expressões, as reacções das pessoas.
Como se fosse transparente entrava e saía:
Da vizinha que esteve toda a noite a gritar com a filha,
do automobilista que amolece no semáforo vermelho,
Ña miúda que faz birra para comer,
No casal de namorados que põe os pasteis da vitrina a olhar,
Dois velhotes falam irritados:
Da corrupção do País, do futebol, do Durão que foi ganhar o pão,
O Santana Lopes que saiu dos tops, no Sócrates que não conhecia a gravidade da situação,

Antes vivias no silêncio da censura, falava-se baixo e aos ouvidos,
Depois veio a revolução …a liberdade …de expressão,
Entrámos na Comunidade Europeia,
As telenovelas paravam o País com a Gabriela.
Dinheiro para a indústria, para a agricultura, para o comércio,
Novas vias, novas estradas,
Antes tínhamos as piores estradas da Europa, hoje as piores auto-estradas.
Fizemos a Expo, reabilitámos o oriente de Lisboa,
Sempre com dinheiros desviados,
Facturas falsas, Universidades “Modernas”, Vacas Loucas, Touros Pedófilos.
Entra governo sai governo, mudam as caras mudam os carros, aumentam as nomeações.
A dívida publica aumenta …como é possível ?
Na Europa os impostos diminuem em Portugal … cada governo retira-te aquilo que já não tens, ontem viste voar os benefícios fiscais, hoje o teu poder de compra.
Em Espanha o Iva é 16 em Portugal vai para … lá da paciência dos mansos.
As reformas derraparam no tempo … a esperança de vida aumentou, a não ser que vás até à assembleia … arranjar uma boleia.


terça-feira, maio 24, 2005

Esclarecimento


Tenho recebido alguns mails (e tb alguns comentários) onde é indagada a veracidade do conteúdo dos posts que escrevo. Antes demais obrigado pelas Vossas contribuições porque é com elas que me vou corrigindo e aprendendo. Quanto ao conteúdo dos posts posso dizer que são experiências de vida. Por exemplo no post Rio foram realmente salvas duas crianças e da forma como é relatada, infelizmente a Ana dos tratamentos neurológicos existe, bem como a outra Ana que sobreviveu a uma queda do 3º andar. Para terminar gostaria de acrescentar que há realidades que por vezes tocam o limite do imaginário, mas de facto estão lá. Em relação ao último post posso dizer-vos que existe uma base subterrânea da NATO bem no meio de Lisboa, a marcação de pacotes é uma tecnologia real e bastante utilizada. E que por incrível que pareça o FBI e a CIA utilizam os chamados “Profilers” para apoiar a resolução de alguns casos mais difíceis.Espero ter esclarecido as Vossas dúvidas e estou sempre ao dispor basta perguntar.

quarta-feira, maio 18, 2005

Premonição


Abriu a caixa do correio, no meio da publicidade, duas cartas, uma do banco e outra das finanças, mau agoiro pensou, abriu a do banco e confirmou o que suspeitava a mensalidade para pagar no final do mês. Nervosamente rasgou o envelope que teimava em enrodilhar-se nos dedos, até que conseguiu olhar em suspense, o motivo da carta, uma leitura em diagonal atravessou o seu raciocínio para uma reunião oito dias depois. Não pode ser coisa boa, com estes abutres saio sempre a perder. O seu pensamento voou pela saldo bancário, o jantar a preparar, e quando deu conta estava sentada no sofá a olhar estupidamente as brasileirices que a obrigavam a um zapping habitual, mas naquele dia, apenas os diálogos do caixote televisivo ficaram a preencher a sala, ela há muito que se sentia, outra vez fora de si em corpo e alma. Desde criança que atravessava momentos em que ao concentrar-se, ao tocar em certos objectos, sentia que o seu corpo ficava, mas a sua alma voava para lugares estranhos onde visualizava outras pessoas em situações difíceis. Lembrava-se perfeitamente, em África ter descoberto aquele casal que perdido no meio da savana estava abrigado numa toca no meio do Muambo.

Mas agora tudo era diferente ali estava ela no sofá deitada e bem acima desafiando a ubiquidade, estava em frente a uma fulana, bem arranjada, um tailler clássico, mas a sua expressão e o olhar eram predadores, sentia um nervoso que não conseguia explicar, nem conseguia perceber o que ela estava a falar. Sim era qualquer coisa da NATO, o símbolo numa das paredes da sala não deixava dúvidas. Estranho mas o que é que aquilo tem haver com as finanças?
De repente acordou, a campainha tocava incessantemente, pressentiu a vizinha da 5º esq. Abriu a confirmação daquilo que antevira. Com um olhar cusco, exalando um odor onde o perfume se misturava com o cheiro do refogado e do cigarro, disse, mas não antes de rodar o pulso por forma a que o cigarro atingisse um desequilíbrio desafiante, daqueles em que qualquer cigarro olha para baixo do pulso e vê um precipício:
- Lara estiveram aí dois fulanos a confirmar se você murava no 5º dir. Fizeram várias perguntas, você anda metida nalguma coisa ?
- Oh Dª Gizela, passo o dia no escritório sabe bem. Mas que perguntas?
O diálogo antecipava uma noite em que o jantar se atrasava, a dor no estômago estava a apertar e o telemóvel salvou-a da melga da vizinha.
O dia 8 não se fez esperar. A reunião não lhe saia da cabeça, arranjou-se a preceito e fez deslizar o carro avenida abaixo. Entrou, retirou uma senha e aguardou a sua vez. O marcador no cimo da parede escondia a ânsia dos contribuintes em serem atendidos. O seu número resistiu pouco tempo antes de aparecer, 38 era agora. O funcionário, olhos de boga e barba por fazer conduziu-a por um corredor até a um conjunto de gabinetes contínuos. Pararam no gabinete cujo letreiro dizia Drª Mónica Mello. Ao fundo numa cadeira larga estava uma figura de meia idade, olhos vivos e óculos de estilo.

A voz era calma e articulada, feitas as apresentações foram directas ao assunto:
- O blogue "Sentimento de si" é seu ?
- Sim.
- Aqui não estamos propriamente nas Finanças, mas na entrada da área 6, já ouviu falar ?
- Não nunca, mas o que é que isso tem haver com o meu blogue ?
- Os seus textos são reveladores de uma pessoa com atributos que nos interessam ?
- E que atributos são esses ?
- Atributos premonitórios digamos.
- Como? Retorquiu sabendo perfeitamente onde iria chegar a conversa.
- A sua capacidade de antecipação, de antever situações pode-nos ser muito útil e a razão porque está aqui é exactamente essa. Convidá-la para se juntar à nossa equipa de Profilers.
- Profilers ?
- As suas qualidades também existem noutras pessoas, algumas já estão a trabalhar connosco e digamos que apuraram esse sexto sentido por forma a obter melhores resultados.
- Desculpe, mas que tipo de trabalho é esse.
- Venha comigo vou conduzi-la ao nosso centro.
Saíram e voltaram a entrar dois gabinetes depois. Dentro do gabinete uma porta de elevador.

Foi convidada a entrar e lá dentro, após a introdução de uma chave começaram a descer. Agora as mensalidades da casa e do carro pareciam-lhe mais leves, um turbilhão de ideias levou-a ao estúpido do namorado que deixara, à passadeira onde ia sendo atropelada, até ao refúgio inseguro que a sua casa deixara de ser.
- Como é que me localizaram?
- Fizemos um TraceBack aos pacotes do seu blogue.
Estes gajos marcam os pacotes...será possível?
Lara minutos mais tarde era admitida no serviço área 6 – Profilers Nato.

quinta-feira, maio 12, 2005

Não foi numa sexta-feira 13


O último ano do liceu chegava ao fim, a viagem de curso há muito programada tinha agora inicio, tudo corria bem para a Ana dezoito anos, miúda invulgarmente bonita, olhos azuis, cabelos louros compridos um tom de pele branco e sedoso. Os miúdos olhavam para ela com um olhar “guloso” ela trazia nos olhos o gosto pela velocidade, pelo desconhecido, pela aventura. O namorado era exactamente o oposto, feitio pacato, pessoa calma e cuja vida corre com a calma que as aldeias têm. Ana vivia nos arredores da cidade, gostava de “brincar” com a troca de olhares que os colegas lhe faziam, ás vezes até um pouco mais. Foi essa a razão do arrufo que tinha tido com o namorado, bem mas agora a sua cabeça estava povoada de alegria, novas paisagens, novas amizades … enfim uns dias fora da monotonia … um novo mundo por descobrir.
O destino da viagem de fim de curso era Benidorm.

Depois de uma viagem longa e repleta de canções e boa disposição chegaram finalmente ao hotel. A malta estava desejosa por dar uns mergulhos, beber unas cervezas e dar uma volta de reconhecimento. O tempo voava, tudo acontecia de uma forma divertida, quando deram conta estavam no restaurante do Pablo a jantar. O álcool invadia as veias e os fumos etéreos eram atirados ar por queixos em que a afirmação pessoal e o estilo de ter uma presença em grupo é uma realidade da juventude. Ana tinha bebido pouco, no entanto sentia-se desinibida e o objectivo era divertir-se. No restaurante Xavier não tirava os olhos de Ana, fez questão de ir servir a mesa onde o grupo se encontrava. Nos olhos de Ana viu uma porta aberta e resolveu entrar. Depois de uma pequena conversa em que o sorriso de ambos fazia adivinhar …momentos futuros, Xavier combinou discretamente com Ana um encontro no quarto de hotel.
O grupo passou no hotel para apanhar uns agasalhos e foi aí que Ana teve uma enxaqueca que a reteve no quarto. As colegas ainda insistiram, Luísa a sua amiga ainda sugeriu ficar, mas Ana disse que ia descansar e se ficasse melhor iria ter com eles.
Passavam poucos minutos das 22:00 quando Ana ouviu a porta do seu quarto bater, um misto de ansiedade e receio fê-la andar ás voltas entre a cama e o quarto de banho a recompor objectos irremediavelmente arrumados. Antes de agarrar a pega da porta deu um jeito ao cabelo e avançou com um sorriso predefinido. O sorriso congelou-se no tempo de tal forma que nunca mais voltou a ser o mesmo. Xavier tinha regressado com …mais dois amigos …ao princípio a separação entre a diversão e apreensão era feita por um misto de surpresa e desilusão. Xavier agarrou-a pelos braços, Ana soltou um grito e instintivamente avançou para fora do quarto, passou pelos outros dois e o seu olhar fixou-se no andar do elevador, 6º andar, ela estava no 3º, Xavier e os colegas não perderam tempo avançaram para ela determinados. Xavier tinha tudo controlado um dos seus colegas era recepcionista no hotel sabia que aquela ala estava vazia, era agora ou nunca, avançou. Ana desesperada primeiro encostou-se à primeira porta do quarto seguinte, tentou abrir mas sem efeito, correu desesperada até ao fundo do corredor e abriu a porta que dava para as escadas de incêndio. Xavier numa linguagem mais agressiva tentou agarrá-la, vendo-a a escapar saltou para o lance imediatamente abaixo, barrando-lhe o caminho. Ana estava sem fuga possível, em cima os outros dois, em baixo Xavier … num ímpeto de desespero saltou as escadas de incêndio da mesma forma que tinha visto ao Xavier, no entanto o pouco álcool que bebera, a adrenalina da situação …empurrou-a para o desespero de uma queda do 3º andar … ainda tentou agarrar-se a um corrimão mas a gravidade obrigava o seu corpo a uma aceleração terrível …de repente sentiu um impacto …quente, vozes a fugirem, tentou a agarrar a realidade fosse ela qual fosse …o vazio surgiu.

Ana seria socorrida e levada para um hospital onde permaneceu 4 meses, acordou ao fim de 3, ao lado da mãe cujo calvário tinha começado. Ana, depois de 6 operações de reconstrução facial, e outras cirurgias ficou tetraplégica, agarrou-se à vida com todas as forças que tinha, o desespero assola-lhe a mente, irrita-se sobretudo com a mãe que deixou de trabalhar para viver para a filha.
Ana ainda vai à praia …

sexta-feira, maio 06, 2005

No limite


Da resistência do teu suor, do teu nervo,
Da paciência dos teus dias, dos teus anseios,
Para atingir um objectivo que melhora o teu ego

Sair de uma curva a mais de 200 km/h
Acelerar a mais de 300 km/h e ver o túnel de visão
a reduzir-se.
precisar de concentração para saber e memorizar
todas as rectas, todas as curvas,
para antecipar a mudança certa e a travagem no limite
sentir o motor, o carro a estremecer também no limite que a gravidade permite,
os travões em brasa iluminam ao anoitecer a pista
aquilo que é um momento de prazer pode transformar-se
num exercício intenso de concentração dos sentidos
12 em 24 horas a conduzir a alta velocidade.

Aumentando a velocidade e rasgando os céus a mais de 2500 km/h
Oxigénio a 100 %, olhos no radar, no altímetro e no velocímetro
Curva descendente a 180º o peso do teu corpo aumenta aos 10 Gs
Contrair os abdominais, manter o sangue no cérebro, sentes o peso do corpo
A passar de 78 a … 780 Kg,
Inverte o sentido …alívia a pressão … respira fundo … oxigenar sem hiper-ventilar.

Qual é o teu limite ?
. . .
Saindo das máquinas, saltando novamente para a natureza

Mesmo em casa pequenos exercícios … de memória,
Em que desafias o teu ser …o teu auto-controle, hoje não me apetece fazer o jantar,
E depois arrumar a cozinha,
Os relatórios para analisar,
Vou só tomar um café e volto já, já, já …lá, lá ficou o teu limite.
Existem limites de dias, meses, anos de pesquisa, testes, análises … tudo até ao limite.
Existe o limite físico e psicológico,
Muitas das vezes escalamos uma montanha, vamos fora de estrada por esses campos e vales onde o vento e o frio dominam, a neve a ajudar, tudo para treinarmos o nosso limite psicológico.
...
Falemos de limites tão simples como mexer um dedo para clickar o rato, falar, andar,
comer,ver. Existem cidadãos que estão limitados na sua independência física.
Presos dentro do seu próprio corpo.

Porque é importante conhecermos os nossos limites … e não por a vida em risco …só para ultrapassar o limite …que depois de ultrapassado faz surgir logo …outro limite.
No entanto escalar uma montanha pode ser mais seguro do que andar de automóvel.
Bom Fim de Semana e aproveitem o que a natureza tem de bom, arejem essas cabeças
...e tenham atenção quando algo vos lembrar ... No limits