sexta-feira, janeiro 28, 2005

De mãos dadas pela falta de inspiração



A falta de inspiração leva-nos por vezes à travessia do deserto de ideias. O excesso de trabalho, a pressão das datas, o stress diário, tira-nos a calma para reflectir. Assim sem dar conta dei comigo a olhar para uma parede branca e observar o vazio de um branco que nem sei como hei-de classificar:
sem mácula, divino, sem nada.

Contei esta situação a uma pessoa amiga e surgiu um desafio que eu também Vos proponho criarmos um post em que os Vossos comentários alimentaram o próximo post que surgirá na sexta-feira dia 4 de Fevereiro. Seja pelos Vossos comentários ou por mail, digam-me quando
a inspiração não surge e olham para uma parede completamente branca o que Vos
vem à memória.



A primeira parede fala assim:

Nesta parede branca escrevo tudo o que sou...
Em cores fortes e alegres misturo o preto e o cincento...
Sou todas elas e mais algumas
Sou letras e palavras sou símbolos e pontuação
Escrevo para trás e para a frente
Para cima e para baixo
Sorrio e choro e abraço
E corro e salto
E caio e levanto-me
E cresco e aprendo
E reescrevo e risco
Mas nunca, nunca apago...

Gilda

A minha parede tem estas cores:

No branco tudo sobressai, um sentimento puro onde te leva
um horizonte imaginário sabendo que é branco.
Imagina a cor do teu sentimento e diz-me que cor
sai do branco uma vez que este contêm todas as cores.

Violeta azul verde amarelo laranja vermelho mas eu
quero ir para lá do Violeta e do vermelho, quero ir onde está o
sentir, para lá do vísivel, ultra-violeta, infra-vermelho, seja
sempre a subir ou sempre a descer
aqui não há princípio nem fim, apenas no meio
a palete de cores onde podemos retirar uma cor, uma tonalidade
para exprimir um estado de alma:
Vigor começa numa cor quente laranja, e acentua crescendo em vermelho
misturo-me na cor e sinto-me já bem quente, para romper e ir para lá do vísivel
basta crescer ou descer desde que em crescendo de energia até explodir de alegria.
Volto à parede branca e inverto o sentido agora para uma cor fresca, calma
para ir para lá do branco, em que tudo pára, cristaliza, congela
o verdadeiro frio invade a alma e esta passa o azul, o violeta e
cintila nos ultra-violetas.

Numa parede branca podemos passar a mão para ver a sua textura,
encostar o ouvido para ela nos dizer quantas pessoas já olharam para ela,
quantas pessoas a ignoraram, quantas pessoas ela limitou.
Algumas Paredes "brancas":

O muro da China


O muro de Berlin


O muro das Lamentações


O muro entre a Palestina e Israel


Agradeço desde já a Vossa colaboração.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Descobrir-te … o corpo … alimentar-te a alma



Quero que olhes as minhas mãos,
De costas para mim, quero que antecipes
O tocar
Vamos descobrir os sentidos e alimentá-los
Com sentimento
Sintonizados, deves pensar na parte do corpo
Em que te toco, foca os teus sentidos, como só existisse
Essa parte …vamos então devagar para
Aquilo que chamo … de massagem aromática
Alimento do corpo e da alma,
Primeiro a planta dos pés,
Os movimentos são circulares e
Em sentido ascendente,
Vamos esticar um pouco as pernas e fazer
Com que os dedos descubram o que os sentidos desejam.
Respira …profundamente, inspira devagar mas de forma progressiva,
O oxigénio tem um efeito relaxante,
Agora … nas nádegas um pouco de
Aroma

A respiração tornasse um pouco mais incisiva,
Tenta manter o corpo relaxado,
Vamos subir …sim as costas,
Os movimentos são pequenos corações que
São desenhados com os polegares,
Estriando a pele e deslizando pelos vales
Dos teus sentidos até ao teu pescoço,
Aqui os movimentos são um pouco mais intensos,
é necessário agarrar os músculos e fazê-los rolar
entre si, na ponta dos dedos como grãos de areia.

Agora como a lua em fase crescente vamos ao
Desejo
Vira-te …
Continua na Vossa imaginação ;-)

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Atlântida - entre dois mundos

Eu que venho do mar
a ti respondo ...a ti procuro
tanto tempo a navegar
dentro do mar
esquecendo o sabor do ar
sem respirar
memórias de Verão
tempestades de Inverno
de tudo vivi
Venho agora à praia
acordar, relembrar
a tua voz
a tua pele
...
a tua alma
vim-te buscar
trouxe um fato de sereia
para te levar
tenho a Atlântida para te dar
Vens ?


Vivemos em sítios diferentes,
lugares diferentes,
o meu sol nem sequer é igual ao teu,
tão diferentes ...tão iguais
Quiseste submergir comigo,
eu disse-te que tens de aprender a
pensar sem respirar.
Para onde vamos ?
Planar entre dois mundos, o teu e o meu.
Reflexos é o que tu encontras no meu,
Sem palavras, aqui apenas existe sentimento,
sim, o que tu sentes eu sinto de forma reflectida,
Como ?
Alma com alma,
Quando no teu mundo, olhos nos olhos percebes o que te dizem,
isso é o chamado diálogo de almas,
aqui estás no mundo do sentimento,
os teus movimentos reflectem-se no nosso espaço,
os teus sentimentos reflectem-se nas nossas almas.
Sem discussões, sem palavras, o que tu queres nem precisas explicar
porque eu sinto reflectido em mim, e tu recebes a resposta reflectida em ti.
Os outros ? Vamos no seu alcance em direcção à falha de S. Vicente,
é ali a porta da Atlântida, lugar onde só há sentimentos,
um mundo onde não há lugar às palavras.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Despertar de consciências



Texto enviado por uma amiga que cordialmente agradeço e saúdo:

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão
dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A
prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que
não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém
se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na
honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe
média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está
na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O
Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um
inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se
por toda a parte: o país está perdido!»


Texto da autoria de Eça de Queirós escrito em 1871 no número 1 d'As Farpas.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Hibernar



Há alturas na vida em que tudo
parece perdido,
sem solução,
problemas em catadupa,
a razão magoa o sentimento,
o sentimento turva a razão,
o destino toma-se dono de si próprio,
caminho ao vento para lado nenhum,
alma perdida, fustigada pela dor, pelo desalento,
em que tudo, até o tempo convida a hibernar
reduzir a temperatura do corpo, as batidas do coração, escutar a respiração compassada cada vez menos interessada em continuar, pensamento no vazio, estado de letargia total,
parar ...
Talvez um dia ... o tempo passa e a diferença entre dois seres humanos mede-se também pela capacidade de reação ao desalento, uns (como muitos) baixam os braços, outros (como poucos) continuam a sua caminhada, conceitos diferentes de verticalidade e horizontalidade,

duas vidas, duas almas ...

dois destinos.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Adeus



Hoje soube que tens e não tens,
que estiveste e não estiveste,
outra pessoa
que te ... nos enganamos.
Eu sabia que assim teria de ser,
porque eu próprio te disse que
precisas, mereces alguém ...
não, não é a teu lado ...é desse lado porque
eu não posso, não quero, ...
como se diz quero e não quero simultâneamente,
alguém me pode ajudar ?
Não me falem em esquecer porque é impossível
olvidar ... o sufoco, o primeiro encontro, o antecipar
sem tocar e apenas o concretizar dos sentidos
... no sabor de um desejo.
Devia estar contente ... porque a tua alma tem companhia,
a minha companhia tem.
Apetece-me dizer-te ... Adeus.
aquele adeus em que tu abanas o corpo e ele não responde,
em que tu gritas e ninguém te ouve,
em que eu e o outro Eu ficam separados por um vidro hermético,
batendo, esbracejando, esperneando, magoando o corpo que a alma já não sente,
gritando à procura de um ponto de ruptura, de uma fenda ...quando a única que vejo
é o reflexo da minha alma dividida.
A dor traduz-se... no desespero do momento sem retorno ...
é mesmo Adeus (à menina que sempre foste).